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Foto do escritorJulio Dain

No Dia Mundial da Alimentação, nosso carro repleto de orgânicos é assaltado na Zona Norte do Rio. Organicamente enfrenta uma de suas maiores crises.

Hoje, 16 de outubro, celebramos o Dia Mundial da Alimentação, uma data instituída pela ONU em 1979 para conscientizar sobre a importância de uma alimentação saudável, sustentável e acessível a todos. Esta data nos lembra da luta contra a fome e da necessidade de apoiar sistemas alimentares mais justos e resilientes.



Mas, neste mesmo dia, infelizmente, precisamos compartilhar uma notícia triste. Um de nossos queridos agricultores, José Antônio Pereira, o Russo, foi vítima de um assalto enquanto transportava frutas, legumes e verduras para o galpão onde preparamos e distribuímos as cestas para os participantes de Organicamente. Por volta das 4:30h da manhã, o carro do Russo foi interceptado por quatro motoqueiros armados. Ele foi ameaçado e forçado a abandonar o veículo, que estava cheio de alimentos cuidadosamente cultivados por ele. O carro, comprado recentemente com muito esforço por ele e sua esposa Andréa, não estava segurado. Felizmente, o entregador André, que seguia em outro carro, conseguiu escapar e voltou para resgatar o Russo. Apesar do susto, nosso agricultor está bem fisicamente, mas compreensivelmente abalado, assim como sua esposa. Em mais de 10 anos de Organicamente, nunca passamos por algo assim.


Este é um momento para lembrar um dos princípios fundamentais da CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura): Partilha de Riscos e Benefícios. Como explicamos em nosso site, esse princípio significa que dividimos com o agricultor os impactos de fatores que comprometem a produção, sem exigir ressarcimentos. Em contrapartida, em tempos de abundância, ele sempre retribuiu com generosidade, oferecendo cestas mais fartas. Até agora, essa partilha foi necessária principalmente por fatores climáticos. Hoje, enfrentamos uma nova situação. E, diante desse quadro, o princípio da Partilha mostrou sua força. Os participantes da CSA Organicamente se prontificaram a abrir mão de cinco itens (do total de oito) de suas cestas desta semana para apoiar o Russo em um momento tão difícil.


A agricultura familiar no Rio de Janeiro enfrenta desafios que vão muito além das dificuldades naturais, como a crise climática: podemos citar os altos custos de produção, dificuldade de escoamento e escassez de mão de obra qualificada. Mas há também o risco de violência e insegurança urbana, com o perigo crescente de assaltos e a tomada de territórios por milícias. Para pequenos agricultores como o Russo, esses desafios podem ser devastadores. Diferente das grandes empresas, que conseguem absorver impactos financeiros significativos, estruturas menores são muito mais vulneráveis. A pandemia de COVID-19 nos mostrou isso de forma dolorosa: enquanto grandes corporações se beneficiaram, milhares de pequenas empresas foram à falência. No contexto da agricultura, um agricultor familiar sozinho tem poucos recursos para resistir a crises estruturais, como a da segurança no Município do Rio.


Felizmente, iniciativas como a CSA, que valorizam os circuitos curtos, a formação de redes e o comprometimento a longo prazo, conseguem oferecer uma solução para, ao menos, parte destes problemas. Ao conectar diretamente agricultores e consumidores, a CSA garante um fluxo constante de escoamento e retribuição financeira, além de criar uma rede de solidariedade e apoio. Isso permite que pequenos agricultores tenham mais segurança e saibam que não estão sozinhos para enfrentar as adversidades. Hoje, mais do que nunca, essa rede se mostrou valiosa. Nossa gratidão a todos que enviaram mensagens de apoio ao Russo.


Por fim, desejamos que esses alimentos, cultivados com tanto cuidado e dedicação, cheguem às mãos de quem realmente precise deles, trazendo um pouco de nutrição e conforto, mesmo em meio a essa adversidade.


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